sexta-feira, 5 de maio de 2017

O COMEÇO E (É) O FIM

Ouvi ela discutirEscutei ele discordarSenti ela chorando de noite. Torci para ele a acalmar. 
Pareciam empolgados e, então, decepcionados. Ouvi eles planejando ir pra longe, presenciei o combinado de nunca mais voltar. Mas, no fim, nós três sabíamos que estavam chegando ao limite: se escravizar é vital onde a ajuda não existe. E se não há mão para auxiliar, por que estender mais uma para implorar? 
E o futuro tão cruel, tão egoísta. Deveria ser crime fadar outro alguém à mesma sina.  
Fugir: Pra onde? Como? Com que dinheiro?  
Ficar: Porque? Como? Com que dinheiro? 
Eu entendo os motivos, eu concordo com as explicações. Eu sei que lá fora está cada um por si e eles não terão tempo de ser por mim. Ela precisa trabalhar, e talvez viva um dia para descansar. 
Eu queria poder dizer que ficaria tudo bemAliviar as preocupações dele, secar o choro dela, mas os poderosos não vão mais prover, o caminho parece aceitar e perecer. Tinha certeza que a gente resolveria tudo, que pintaríamos a cara e lutaríamos ao lado dos justos. Mas eles desistiram de ir às ruas e deixaram o medo vencer, não se pode colocar mais um nesse país: eu não vou mais nascer. 

 Por Tyler Durden

4 comentários:

  1. Sobre o texto: um soco na boca do estômago. Sufoca e causa apreensão. Enxergo claramente 5-6 técnicas do Pena - e vejo muita facilidade em sua maneira de representá-las. Você não está procurando ser perene ou profundo: o texto já sai assim naturalmente. Tudo isso em um trecho curto. Muito perto do domínio da estrela de 7 pontas.

    Sobre o assunto, a crônica me fez pensar. Estamos em cima de uma corda bamba: de um lado desistência dos sonhos, empregos de merda e bicos. Do outro, tentar se realizar e a extinção de qualquer tipo de segurança. A única maneira de vencer é se equilibrar e não cair da corda. Pegunto: há quem não caia em algum momento?
    Um abraço!

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  2. Agradeço, Setekh. Até aqueles que acreditam estar alertas...até esses caem. Mas o que importa é o que acontece depois disso. Meus personagens, com os pés no chão, não se entregaram ao que acabaram crendo ser a fábula de "dar a luz". Que luz nesse lugar cheio de trevas? Pessimista? Talvez. Racional? Com certeza.

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  3. Curto mas poderoso, é um texto que em poucas palavras nos faz se apegar à estória. Claro que o que foi contado também ajuda, mas não deixa de ser excelente.

    Abs, Sr.Omar

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